ERROS E ACERTOS

Carole Crema, chef confeiteira e proprietária da Carole Crema Doces (SP)

Foto: divulgação.

Seu rosto ficou mais conhecido quando figurou entre os jurados do programa Que Seja Doce, competição entre confeiteiros transmitida pelo canal pago GNT. Mas quem acompanha a trajetória da chef Carole Crema arrisca-se a dizer que é uma confeiteira da velha guarda.

O termo nada pejorativo carrega muita experiência, que hoje permite a ela manter-se como uma das mais importantes profissionais do mercado e, sem dúvida, com muitas histórias para contar.

Formada em reconhecidas escolas da área, como as inglesas Thames Valley University e The Mosimann Academy, Carole abriu a loja La Vie en Douce em 2002, no bairro paulistano dos Jardins, para colocar sua técnica e criatividade em tortas, doces e chocolates refinados. Mas foi no resgate de doces da infância que cativou uma fiel clientela. “Minha especialidade é o comfort sweet”, conta ela.

Mesmo com uma agenda atribulada, preenchida por aulas na Escola Wilma Kövesi de Cozinha e gravações do programa Hoje Pode na rádio BandNews FM, Carole foca a maior parte do tempo gerenciando sua marca – atualmente com o nome Carole Crema Doces –, e comemora o resultado das vendas no e-commerce. Em meio ao lançamento de uma nova linha, a Carole Crema Fine, e de uma cozinha colaborativa na capital paulista, ela nos conta que nem sempre colheu flores, mas também soube fazer de muitos limões uma doce limonada.

ERREI

“A falta de atenção aos gastos me custou um apartamento” 

Foto: divulgação.

“Primeira coisa que fiz de errado foi achar que cozinhar bem era suficiente para ter um negócio de gastronomia.

Não estudei o que era importante: contas e números. Aprendi a fazer ficha técnica, mas nunca prestei atenção na questão administrativa. Quanto é meu custo fixo? Eu não sabia e estava tudo ótimo quando comecei, pois era uma época em que não tinha concorrência, era muito fácil ganhar dinheiro com comida.

Mas as pessoas começaram a estudar gastronomia e a questionar o preço das comidas. Eu não sabia contar centavo. Sabia fazer doce gostoso. Então, entendi que precisava saber dos mínimos detalhes dos custos para conseguir sobreviver. Mas até descobrir isso, perdi um apartamento nos Jardins.

Hoje, falo para meus alunos que o importante, primeiro, é contar os centavos, depois fazer o bom doce.

Um exemplo: sempre usei pistache de Bronte, mas a concorrência aumentou e a conta não fechava mais. O que fazer? Tiro o pistache de linha? Ou aumento o preço do produto? Aí veio a experiência para fazer escolhas. Minha barra de chocolate meio amargo com pistache precisa ter o melhor ingrediente, pois nota-se muito sua qualidade. Mas no doce em que ele é moído e cozido, não há diferença. Neste caso, dá para comprar uma variedade mais em conta.”

ACERTEI

“O ‘de colher’ é minha marca registrada”

Foto: divulgação.

“Quando abri a La Vie en Douce, pensei em fazer sobremesas chiques, pois era bobinha, recém-formada, achava que fazer torta de pera com lavanda era a única maneira de me dar bem na vida. Mas tomei muita gongada.

Um dia, a cantina do meu ex-colégio, o Dante Alighieri [em São Paulo], me pediu brigadeiro enrolado para vender. Mas eu era ‘muito chique, formada na Europa’ e meu brigadeiro saía duro demais ou mole demais. Como resolver isso?

Eu sempre comi muito brigadeiro, mas aquele que fazíamos em casa, molinho, morninho, direto da panela. Depois de 20 entregas para o Dante que deram errado, eu decidi mudar. E aí inventei o brigadeiro de colher. Mas não era o brigadeiro cru! Depois de cozinhar, eu colocava creme de leite para deixá-lo cremoso. Coloquei em um potinho plástico com uma colher, embrulhado no saquinho, bem simples.

Isso aconteceu em 2002 e virou uma febre que eu não imaginava! A ponto de registrar a marca ‘de colher’. Claro que brigadeiro mole sempre existiu, não sou gênia. Só comercializei a memória afetiva de todas as pessoas.

Por conta do sucesso do brigadeiro de colher, na Páscoa do ano seguinte decidi fazer o ovo de colher e, no Natal, um panetone bem recheado, também para comer de colher.

Digo para minhas filhas: pode ser que eu não deixe dinheiro para vocês, mas deixei um legado, do qual me orgulho muito.”

Site: Carolecrema.com.br

Instagram: @carolecrema

 

Por aipim